Aya Yumemiya
Mensagens : 89 Pontos : 104 Reputação : 5 Data de inscrição : 17/04/2012 Idade : 35
| Assunto: O abrir de um coração Sáb Jan 04, 2014 2:35 pm | |
| OFF: Então gente! Resolvi faze um teste; a história é da Aya, mas quem narra é a Chie. Espero que gostem! Chie desempacotava seus poucos pertences, quando se pegou pensando se deveria mesmo se dar àquele trabalho. Quatro meses havia sido o maior tempo que elas haviam passado na mesma cidade. Ou vila, já que aquele lugar era tão pequeno... perdido no meio das montanhas. - Talvez aquele tivesse sido o problema; em cidades menores, todos notam quando há um recém chegado. Chie se levantou, decidindo pendurar seu primeiro estetoscópio ao lado da cama. Ele não funcionava mais, mas olhar para ele sempre lhe trazia boas lembranças. Ser pessimista não ia ajudar muito. Afinal, mesmo com alguns contratempos, elas estavam indo tão bem. - Nunca vou me esquecer... Nós estávamos exaustas, e Aya ao meu lado era só uma casca vazia, caminhando sem dizer uma palavra sequer. E então, pela primeira vez em nossas vidas, a sorte sorriu para nós. 2 ano e 2 meses atrás, região de Toyama. - Vamos Aya... só mais um pouco. – eu fazia pressão nos dedos, enquanto segurava a mão dela. Aya, por sua vez, tinha a mão frouxa, os olhos baixos e arrastava os pés - Só mais um pouco... A verdade era que eu não fazia ideia do quanto mais, nem de que direção tomar, mas não podíamos parar. Mesmo que não fôssemos encontradas, com certeza o frio nos mataria. Nevava bastante, e não estávamos nem de perto preparadas para aquilo. Ao menos a nevasca era forte o suficiente para cobrir nossos rastros em pouco tempo.
Não foi por acaso que só vi o vulto à nossa frente quando ele já estava perto demais. Mesmo sentindo como se meu coração tivesse pulado uma ou duas batidas, pude perceber que Aya ainda andava em frente, só parando quando a puxei na direção contrária. Será que ela ainda estava ali comigo? Mas essa não podia ser minha preocupação; eu precisava derrubar aquele vulto, precisava fugir... precisava proteger Aya... precisava...
Precisei me deixar cair sobre os próprios joelhos e quase chorar de alívio; o vento havia dado uma ligeira trégua, revelando diante de mim não um deles, mas um senhor surpreso e preocupado. Ao meu lado, dois pequenos passos à minha frente, Aya ainda mantinha uma de minhas mãos ligeiramente erguidas. Agora eu podia me preocupar em trazê-la de volta. - Duas... meninas?! Acredito que o choque dele era compreensível. Eu não acreditava que quase havia atacado um senhor no meio das montanhas. Bom... eram tempos difíceis. Havia uma caminhonete pouco adiante na estrada, onde o senhor aguardava uma trégua da nevasca. Ele nos ofereceu abrigo, e nos contou sobre a vila Shibuiya. Disse que nos levaria lá, onde poderíamos conseguir ajuda. Mal sabia ele que ele era toda a ajuda que nós sonhávamos receber.
Nós estávamos naquela vila a quase duas semanas. Hirano-san não parecia muito incomodado em encontrar nossos pais, entrar em contato com as autoridades, ou com qualquer outra forma de se livrar das meninas possivelmente órfãs que ele encontrara na estrada. Ele era viúvo, e parecia gostar de nossa companhia. Ou talvez apreciasse a ajuda que eu fizera questão de dar, tanto dentro da casa quanto no consultório dele, que era até bastante movimentado, já que ele era o único médico da redondeza. E como Aya não arrumava problemas, acredito que não éramos um incomodo assim tão grande. Mas o fato de Aya não arrumar problemas era uma de minhas maiores preocupações. Eu ainda não havia ouvido a voz dela, e durante a noite, ela tremia sem parar durante o sono. Todas as noites. Quando eu não estava ajudando no consultório, procurava pedir ajuda à minha “irmãzinha”, ou ao menos mantê-la sempre à minha vista. Mas ela só fazia algo quando eu pedia, ficando quieta no restante do tempo. Até que um dia, Hirano-san chegou em casa um pouco mais tarde. Como de costume, deixou o casaco pendurado atrás da porta, a valise sobre a mesa de canto e as botas perto da porta. A novidade foi quando ele parou diante de Aya, que mal pareceu notá-lo. Aquilo me intrigou; não que ele não gostasse dela, mas ele sabia que Aya precisava de espaço, e por isso, se limitava a dar bom dia e boa noite. Mas naquela noite, ele ficou quase um minuto inteiro na frente dela, sem se mexer. Será que ele não havia me visto ali atrás? Bom... eu estava afinal de contas espiando da porta da cozinha, e em silêncio. Aquela cena estava estranha demais. Antes que eu pudesse falar algo, ele se abaixou o suficiente para deixar algo no colo dela, e continuou seu caminho rumo às escadas, como fazia todos os dias. Sobre o colo de Aya, pude ver um pequeno embrulho de pano, e suspirei; ele também estava preocupado com ela. Aya, por outro lado, não esboçava reação. Fiquei um tempo olhando o rosto vazio dela, me perguntando por quanto tempo aquela apatia iria durar. O que será que se passava na cabeça dela? Foi quando os olhos dela piscaram, entrando em foco. Aquilo me fez sair da cozinha depressa. Mesmo que eu não visse nada além de confusão nos olhos dela, ao menos era alguma coisa. Eu não sabia o que esperar. Antes mesmo de eu alcançá-la, vi sua testa franzir e ela abaixou os olhos para o próprio colo. Fiz o mesmo, e notei que a trouxinha de pano se mexia!
O filhote estava arrepiado e desconfiado. Olhava para Aya, curioso, e ela lhe devolvia o olhar. Eu tinha medo de respirar alto demais e assustar um dos dois; Aya ou o gato. E então, Aya fez o primeiro movimento voluntário em dias! Ela ergueu uma das mãos e coçou o queixo do gato com o indicador. Eu não pude esconder um sorriso. Será que ela estava voltando? E então, os dois pararam de se mexer novamente. O gato havia... acabado de morder o dedo de Aya?
- Seu...
Aya balbuciara tão baixinho que, se eu não estivesse prestando 100% de atenção eu sequer teria percebido. Ela ainda não havia se mexido, e o gato ainda não havia soltado o dedo dela.
- Seu INGRATO!!!
Eu simplesmente não tive reação ao ver Aya saltar da cadeira, e começar a perseguir furiosamente o gato pela sala. O que diabos?... - E então, ela só precisava de um gatilho. Ao meu lado, Hirano-san parecia satisfeito. Ele havia planejado aquilo? Ele pareceu ouvir minhas dúvidas, como sempre fazia, e sorriu, observando Aya a perseguir o bichano, enquanto ria. - Ela precisava de alguma coisa para quebrar a casca dela. Pela sua preocupação, ela não estava em seu estado normal. Agora, não sei o que aconteceu com vocês, meninas, mas parece ter sido sério. Diante de meu silêncio espantado, ele sorriu novamente. Será que havia chegado o momento de irmos embora?! - Não se preocupe; vocês são meninas boas. Logo, não me interessa o que tenha acontecido; não precisa me explicar nada. Minha assistente vale mais que minha curiosidade. Agora, resta vermos se Aya-chan se recuperou, ou se nós na verdade acionamos outro mecanismo de defesa na mente dela. Mas ao menos, ela parece mais saudável... Chie-chan... que cheiro bom é esse?! Você fez... Somen?!?! E dizendo isso, ele saiu em direção à cozinha, procurando por meu Somen. Eu me demorei mais um pouco na sala; Aya havia acabado de capturar o gato, e lhe coçava insistentemente, por mais que o bichano parecesse desesperado para fugir. A mim, restaram lágrimas de alívio. Não me importava se outro mecanismo de defesa havia sido acionado; só me importava que ela havia voltado a sorrir. OFF: Olha; acho que abri uma série! Falta eu criar vergonha na cara e continuar direitinho ^.~ | |
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Mr Dédalus Admin
Mensagens : 133 Pontos : 201 Reputação : 3 Data de inscrição : 23/03/2012 Localização : Fallen hills
| Assunto: Re: O abrir de um coração Sáb Jan 04, 2014 2:45 pm | |
| foi uma ótima história. você separou bem as cores, é muito fácil ver quem é quem na narração, a descrição prende a atenção e o incita a ler cada vez mais. diário pessoal com gostinho de quero mais:
40 pontos de XP | |
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